"Recebi um email de um ouvinte dos EUA, o Boris Kortiak, com um comentário interessante:
“Sempre
que visito o Brasil vejo uma terra com enormes oportunidades, mas
quando falo com as pessoas ouço apenas sobre os enormes problemas.
Algumas vezes falamos sobre a mesma coisa, mas vista sob perspectivas
diferentes. Como é possível que duas pessoas, olhando para a mesma
coisa, vejam de forma tão diferente? O que acontece com os brasileiros
para que olhem apenas o negativo e achem que as coisas são imutáveis,
enquanto um estadunidense ou inglês veja as mesmas coisas como
obstáculos a serem vencidos? Por que a maioria só vê uma imagem sombria
do Brasil? Talvez não seja o ritmo constante de negatividade da mídia
que ajuda a desmoralizar a população, mas a falta de fé na existência de
soluções.”
“Falta de fé na existência de soluções”... suspeito que essa falta de fé não é causa, é conseqüência. Vejamos.
Se
examinarmos a história do Brasil nos últimos quarenta anos veremos a
sucessão de frustrações que nos levaram a essa falta de fé. No final do
regime militar milhares de pessoas vão às ruas pelo Diretas Já, que o
Congresso não aprova. Algum tempo depois conseguimos, de forma indireta,
eleger um presidente civil: Tancredo Neves. Que morre antes de tomar
posse. Seu substituto, Sarney, chega com um plano redentor, o Cruzado. E
leva o Brasil ao maior período recessivo da história. Vem as eleições
diretas e elegemos um jovem, Fernando Collor de Mello. Sua primeira ação
é confiscar o dinheiro de todo mundo. E temos o primeiro impeachment da
história. O sucessor, Itamar Franco, começa o governo relançando o
Fusca, mas termina abrindo caminho para o Plano Real que finalmente
coloca o Brasil nos eixos. FHC faz um ótimo primeiro mandato, mas o
segundo termina em meio a acusações de “privataria”, compra de votos,
etc. Frustrante. Vem Lula, com seu discurso pela ética. E oito anos de
lambança. Nesses 40 anos a educação continuou em deterioração, a saúde é
um escândalo, a violência é crescente, o trânsito torna-se caótico, a
corrupção torna-se endêmica, os impostos crescem sem parar, a
infraestrutura é uma piada, as enchentes de janeiro continuam matando, a
seca do Nordeste idem, a Justiça não funciona... Ufa!
Mas
é claro que também experimentamos melhorias. Somos um país em franco
crescimento, temos o povo mais otimista do planeta, melhoramos a
distribuição de renda, tirando milhões da miséria e temos ilhas de
excelência. Mas os problemas básicos continuam sem solução, passando de
geração para geração.
Não é natural que – após 40 anos - a conseqüência seja a tal “falta de fé na existência das soluções”?
É.
Mas tenho uma visão diferente. Acredito que sabemos dos problemas e
conhecemos as soluções. O que não temos é fé em nossa capacidade de
implementar as soluções. Depois de 40 anos prometendo e não cumprindo,
somos uma sociedade desconfiada, onde cada vez menos gente acredita nas
instituições, nas leis ou nos outros. Daí a visão sombria e negativa.
Numa sociedade baseada na desconfiança, todo mundo é culpado.
(Luciano Pires)
Nenhum comentário:
Postar um comentário